quinta-feira, 2 de julho de 2015

Clima: acordo Brasil-EUA vai na direção certa, mas em velocidade errada

“Apesar deste pequeno avanço, consideramos que o Brasil ainda poderia chegar a 33% da sua matriz elétrica com outras fontes renováveis, criando um grande potencial econômico social e ambiental para o país”, diz coordenador do Programa Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil


A presidente brasileira, Dilma Rousseff, e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciaram na terça-feira, 30 de junho, um compromisso de intensificar a colaboração entre os dois países na área de combate aos desafios ligados às mudanças climáticas. O anúncio aconteceu durante a visita da presidente aos Estados Unidos e se refere tanto a nível bilateral como no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).
Os itens anunciados incluem a pretensão de atingir até 2030 de 28% a 33% de sua matriz energética por fontes alternativas renováveis de energia, a restauração e o reflorestamento de 12 milhões de hectares de florestas até 2030, a continuação de políticas destinadas a eliminar o desmatamento ilegal e a promessa de um compromisso brasileiro ambicioso de redução de emissões para a COP de Paris.
De acordo com o coordenador do Programa Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil, André Nahur, um dos pontos importantes do acordo, apesar de insuficiente, foi a meta de 28% a 33% de sua matriz energética por fontes alternativas renováveis de energia até 2030. “O anúncio não cria um cenário muito diferente do atual. Para o Brasil é pouco, pois basicamente mantém o que temos hoje de 28,6%. Por outro lado, o anúncio de aumentar para 20% a geração de energia elétrica por fontes renováveis que não hidroelétricas é importante e cria uma possibilidade de expansão de geração solar, eólica e biomassa, explorando o imenso potencial brasileiro. Apesar deste pequeno avanço, consideramos que o Brasil ainda poderia chegar a 33% da sua matriz elétrica com outras fontes renováveis criando um grande potencial econômico social e ambiental para o país”, diz ele.
Um segundo ponto importante é a cooperação no uso sustentável da terra, que se refere tanto ao desmatamento quanto à pecuária – ponto em que, segundo Nahur não representa grandes avanços. “O desmatamento líquido zero fazia parte do Plano Nacional de Mudanças Climáticas e era esperado para ser alcançado até 2015. Acabar com desmatamento ilegal é uma obrigação e precisamos fazer isso o mais cedo possível com instrumentos efetivos de regularização fundiária e alternativas econômicas florestais. Outra questão importante é o aumento da demanda de carne bovina para o mercado norte-americano. Isso pode causar uma mudança na dinâmica de produtos agropecuários relevantes, acabar empurrando fronteiras agrícolas e gerando impacto adicional para os biomas brasileiros, principalmente Amazônia e Cerrado”, diz ele.
Pelo lado dos Estados Unidos, Lou Leonard, diretor de Mudanças Climáticas do WWF-EUA, argumenta que o apoio concreto dos Estados Unidos para promover uma maior cooperação internacional sobre as alterações climáticas é um marco chave para um bom posicionamento em Paris. “É hora dos EUA mostrar que está disposto a trabalhar em conjunto com as principais economias como o Brasil, para derrubar as emissões em regiões como a Amazônia. O acordo desta semana é uma oportunidade para ambos os líderes ajudarem a impulsionar conversas sobre as mudanças climáticas e prepararem o terreno para um acordo global mais forte em dezembro”, diz Lou.
FUTURO PROMISSOR
A 21ª COP, que acontece em Paris, no final do ano, é vista por grande parte dos especialistas como a última oportunidade das nações se comprometerem com metas ousadas de redução de emissões de gases de efeito estufa, para que o nível de CO2 na atmosfera se mantenha no máximo em 450 ppm e o aumento da temperatura da superfície terrestre não ultrapasse os 2º C a partir do período pré-industrial, o que causaria desastres irreversíveis ao planeta.
Os Estados Unidos anunciaram suas metas de 26% a 28% de redução de emissões para a próxima década em relação aos níveis de 2005. A China também anunciou sua contribuição nacional esta semana prevendo o pico de suas emissões nacionais até 2030. Já o Brasil deve anunciar seus compromissos até outubro, que é o prazo final para entrar no relatório da COP de Paris.
“Esse é o momento dos países anunciarem um compromisso conjunto de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e de trabalharem em parceria e dar um exemplo ao mundo de que o desenvolvimento com baixo uso de carbono é possível, viável e interessante para todos. Quem fizer isso primeiro terá mais possibilidades de assumir a liderança nessa área”, completa Nahur.

(WWF Brasil) via JC Online

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