segunda-feira, 12 de maio de 2014

Imprensa e as mudanças climáticas

Grande parte dos brasileiros está há quase seis meses olhando angustiada para o céu – por que ficaram religiosos de repente? Esperam um milagre dos deuses ou de São Pedro, o porteiro do reino do céus?
Parte dos aflitos examina as nuvens à espera de chuva forte, de preferência prolongada – o Sudeste vive a pior estiagem das últimas décadas. Em compensação, os brasileiros que vivem no Norte, às margens do rio Madeira, não desgrudam os olhos das suas nuvens pois o rio transbordou e está encharcando perigosamente uma região já encharcada.
A verdade é que a meteorologia, a previsão do tempo, é uma ciência que sucede a ecologia, a relação do homem com o ambiente. De nada adianta acender velas suplicando pela formação de nuvens negras se as nossas cidades são cada vez mais cinzentas, transformadas em fábricas de toxinas e nossas matas perdem suas árvores e viram pastos. A natureza é obediente, faz exatamente o que determinamos que faça.
Antes de olhar o céu convém examinar as páginas dos jornais e as telas da tevê. Enquanto a mídia não nos convencer de que quem faz o tempo somos nós, enquanto não aprendermos que quem faz o clima é a humanidade, continuaremos sujeitos às angústias por causa de secas e dilúvios. A água pode ser bênção ou maldição, a dose certa depende da nossa capacidade de entendê-la e de conservá-la. Ser verde não é uma opção cromática, é uma forma de garantir a nossa sobrevivência.
O verdadeiro mandachuva é o próprio homem contemporâneo. 

Por Alberto Dines em 09/05/2014 na edição 797 - Editorial do Observatório da Imprensa


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