quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Cientistas discutem temas regionais frente aos desafios globais

Temas comuns a países em desenvolvimento frente aos desafios colocados hoje globalmente, como o uso racional e inclusivo da água e políticas de incentivo à pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) marcaram o início do Seminário Brasil – Ciência, Desenvolvimento e Sustentabilidade, nesta quinta-feira (21), na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Participaram do debate, mediado pelo jornalista Luis Nassif, o ex-ministro da Ciência e Tecnologia e professor do Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Sergio Rezende; os pesquisadores James Shuttleworth, da University of Arizona (EUA) e Indira Nath, do National Institute of Pathology (Índia); o diretor do Instituto Tecnológico Vale, Luiz Eugênio Mello; e o coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Energia e Ambiente (INCT E&A), Jailson Andrade.
Leia abaixo os principais pontos discutidos:
Doenças negligenciadas
Indira Nath: “É necessária uma cooperação entre diversos setores, com o envolvimento de várias disciplinas e áreas do conhecimento. Precisamos fazer análises sistêmicas, atuando em conjunto, para afetar setores como saúde, emprego e educação. A comunidade científica precisa se reunir para investigar e fornecer respostas aos governantes, de maneira a subsidiar políticas públicas. Mas temos um problema comum, que é o emprego de modelos automáticos para determinadas regiões que, embora semelhantes, possuem particularidades. Cada setor político tem o seu sistema de análise e seria necessário implementar modelos que tenham uma linguagem comum e possam conversar entre si”.
Eficiência energética, crescimento e inclusão social
Jailson Andrade: “O maior desafio hoje, e que se propaga em vários outros, é a exclusão populacional e o aumento da expectativa de vida das pessoas. Isso requer expansão energética, e o sistema de energia tem pelo menos três dimensões: tecnológica, ou seja, do desenvolvimento de novas formas de geração e produção; de eficiência; e uma dimensão educacional, quer dizer, de como a população percebe o que significa energia”.
“No início deste século, a matriz energética mundial era em torno de 70% dependente de energia fóssil. E a discussão girava em torno da mudança desse coeficiente. Hoje, exatamente 82,5% da matriz mundial é de energia fóssil. E a maior parte de uso dessa matriz é para gerar eletricidade e para o transporte, o que repercute nos índices de poluição nos grandes centros urbanos. Cerca de 1,3 bilhão de pessoas no mundo não tem acesso a ar de qualidade”.
“Então, sem a diversificação bem larga da forma de energia disponível para garantir eficiência (que significa a população ter energia de qualidade, sustentável e a um preço acessível), dificilmente mudarão as incidências de poluição nas grandes cidades. Uma diversificação da matriz e uma visão educacional certamente trarão repercussões na poluição dos grandes centros urbanos”.
PD&I e o setor privado
Sergio Rezende: “A forma pela qual a ciência e a tecnologia geram riqueza é nas empresas. São aqueles produtos realmente inovadores que ganham mercado. O Brasil não tem um sistema empresarial fazendo pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) por razões históricas e culturais, principalmente. Até 2005, por exemplo, não se podia usar recursos públicos para financiar pesquisa em empresas, ao contrário de qualquer lugar desenvolvido no mundo, e os Estados Unidos são o melhor exemplo, o governo define áreas estratégicas e aplica dinheiro nas empresas. A subvenção econômica, que foi criada pela Lei de Inovação, e os incentivos fiscais definidos pela Lei do Bem mudaram esse cenário no país. Cada vez mais nós temos empresas fazendo pesquisa”.
“As empresas nacionais estão vendo que é possível investir em PD&I no país. E é preciso que o setor privado veja que com isso elas ganham mercado. Nós temos empresas hoje na área da tecnologia da informação (TI) que são pequenas multinacionais, que estão com um pé lá fora, levando e desenvolvendo seus produtos no exterior, transformando conhecimento em processos e produtos novos”.
“O melhor exemplo que temos no mundo é a Coreia, que nos anos 1970 era um país mais subdesenvolvido que o Brasil e desenvolveu uma política industrial, científica e tecnológica e hoje temos marcas coreanas fazendo produtos que competem com qualquer outra empresa no mundo”.
Hidrologia, agricultura e mudanças climáticas  
James Shuttleworth: “Certamente é verdade que há grandes diferenças de opinião e de interesses em relação a esse tema, mas acredito que na maioria das questões sensíveis, a melhor abordagem é encontrar uma ciência comum, uma ciência que possa compreendida e aceita por ambos os lados. Tendo isso como base, o debate se torna mais razoável e possível. E aí conseguimos adotar uma abordagem sistêmica, como sugeriu a doutora Indira”.
“Pessoas que não são especialistas estão entrando no debate global e elas começam a ver que há uma necessidade de mitigar os efeitos de questões climáticas. Um dos argumentos mais usados para a preservação da Amazônia, por exemplo, é apresentado pela comunidade dos agricultores”.
“Há uma grande interface entre hidrologia e a comunidade agrícola. E há uma interface que precisa ser desenvolvida: a eficiência e o uso da água na agricultura. Estou no Brasil desenvolvendo um projeto que trata de reunir as habilidades de diversos órgãos e instituições, Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] e Cemaden [Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais], para criar uma infraestrutura nacional que irá aconselhar práticas agrícolas com uso e sustentável da água”.

Texto: Isadora Grespan e Rodrigo PdGuerra – Ascom do MCTI

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