quarta-feira, 22 de maio de 2013

Barco Alpha Delphini faz sua primeira expedição científica

Elton Alisson
Agência FAPESP – A comunidade científica do Estado de São Paulo ganhará nas próximas semanas uma segunda nova embarcação, em um período de um ano, para a realização de pesquisas oceanográficas. Trata-se do barco Alpha Delphini, que deverá iniciar na primeira semana de junho sua primeira expedição científica.
Primeiro barco oceanográfico inteiramente construído no Brasil, o Alpha Delphini integra um projeto, submetido à FAPESP pelo Instituto Oceanográfico (IO), da Universidade de São Paulo (USP), no âmbito do Programa Equipamentos Multiusuários (EMU). Foi construído com o objetivo de aumentar a capacidade de pesquisa em oceanografia no Estado.
O projeto também incluiu a aquisição do navio oceanográfico Alpha Crucis, inaugurado em maio de 2012, que já fez até agora sete cruzeiros, incluindo de testes e para fins de pesquisa.
“As duas embarcações se complementam perfeitamente em termos de possibilidades de pesquisas oceanográficas e foram concebidas para atuar dessa forma”, disse Michel Michaelovitch de Mahiques, diretor do IO-USP, à Agência FAPESP.
“O Alpha Delphini tem autonomia e capacidade de pesquisa intermediária entre as pequenas embarcações e os navios oceanográficos disponíveis para pesquisa no Estado de São Paulo e completa uma necessidade que tínhamos de contar com uma embarcação que cobrisse o que chamamos de plataforma continental – uma área que começa na linha da costa e atinge até 200 metros de profundidade”, explicou.
De acordo com Mahiques, o custo total do barco foi de R$ 5,5 milhões. O programa EMU da FAPESP destinou R$ 4 milhões para a construção da embarcação e o restante – motores e uma série de equipamentos científicos – foi financiado com recursos do próprio IO-USP.
O barco – batizado com o nome de uma estrela binária que orbita a constelação de Delphinus (golfinho, na tradução do latim), vista do hemisfério Norte – tem 26 metros de comprimento e capacidade de transportar dez pesquisadores, além da tripulação. Ele foi construído no estaleiro Inace, no Ceará.
A autonomia de navegação do Alpha Delphini é de 10 a 15 dias, dependendo do número de tripulantes, e ele poderá operar em toda a faixa de 200 milhas marítimas da fronteira litorânea.
“Estimamos que a demanda pela utilização do Alpha Delphini será maior do que a do Alpha Crucis, porque é uma embarcação mais adequada para pesquisas na plataforma continental e permite realizar cruzeiros mais curtos e com um custo menor do que os do navio oceanográfico”, comparou Mahiques.
Segundo o pesquisador, como faz parte do programa EMU, o barco poderá ser solicitado para pesquisas de qualquer universidade, inclusive de instituições privadas. Mas o regulamento estabelece prioridade para certos casos, como os projetos financiados pela FAPESP e para uso de pesquisadores do IO-USP. Em seguida, têm preferência os projetos das outras duas universidades estaduais paulistas – Unesp e Unicamp.
“O Alpha Delphini é uma embarcação oceanográfica com as características ideais para a maioria das instituições de pesquisa do Brasil, porque é um barco de porte médio, com um custo relativamente baixo, se comparado aos navios oceanográficos, e com condições de permitir estudos na plataforma continental para os quais há uma demanda muito grande”, avaliou Mahiques.
“O barco também tem a importância simbólica de ser a primeira embarcação oceanográfica construída no Brasil, o que demonstra que a indústria nacional tem condições de fazer embarcações de pesquisa”, destacou.
Primeira expedição
A primeira expedição científica do Alpha Delphini está marcada para o início de junho no litoral de Pernambuco, entre a ilha de Itamaracá e o arquipélago de Fernando de Noronha, além da zona costeira de Recife.
Prevista para durar 15 dias, a expedição faz parte de um Projeto Temático, realizado por pesquisadores do IO-USP em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e com a participação da Agence Nationale de la Recherche (ANR), da França, no âmbito de um acordo entre a FAPESP e a Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe).
O objetivo da expedição é avaliar o papel das regiões oceânica e costeira de Pernambuco como absorvedoras ou liberadoras de carbono e identificar quais zonas atuam de uma forma ou de outra.
Região de bifurcação da corrente marinha que vem da África e que se divide – com uma parte da massa d’água seguindo em direção à região Norte e outra para a região Sul do Brasil –, a zona oceânica de Pernambuco sempre foi pouco compreendida, de acordo com Elisabete de Santis Braga, professora do IO-USP e coordenadora do projeto.
Por sua vez, a região costeira do Estado vem aumentando nos últimos anos as emissões de carbono tanto de fração orgânica como de inorgânica, em razão de fatores como o aumento desordenado da ocupação humana.
“A possibilidade de irmos com o barco até Fernando de Noronha possibilitará obter informações oceânicas daquela região, que atua como um pequeno sorvedor de carbono, com águas pobres em nutrientes”, disse Braga.
“À medida que nos aproximarmos da zona costeira de Recife também verificaremos se há uma retenção maior de carbono naquela área em função mesmo da fertilização da água pela atividade humana, que pode ser revertida em um processo positivo se conhecermos melhor sua dinâmica”, avaliou.
Para obter informações sobre transporte de carbono nas regiões oceânica e costeira de Pernambuco, os dez pesquisadores participantes da primeira expedição coletarão amostras de água e de organismos.
Por meio de equipamentos de sondagem, como o CTD (em inglês: conductivity, temperature, depht), será possível obter, por exemplo, dados sobre a condutividade (usada para o cálculo da salinidade), temperatura e profundidade do mar, além da corrente, a velocidade do fluxo e a direção das massas de água.
Já por meio de um equipamento chamado rosette ou carrossel, com garrafas de Niskin de 5 litros, os pesquisadores pretendem conseguir amostras de água de diferentes profundidades para análises químicas e biológicas de aspectos como teor de CO2, índice de pH e composição de nutrientes.
Durante a expedição também serão realizadas coletas de fitoplâncton, para medir a fertilidade da água e o potencial que apresenta para produzir organismos do primeiro nível da cadeia alimentar marinha.
“A maior parte das análises químicas e biológicas da expedição será feita a bordo do barco oceanográfico utilizando os diversos equipamentos de química analítica do laboratório e da ecossonda disponíveis na própria embarcação”, disse Braga.
“O que não for possível ser analisado durante a viagem será congelado na câmara fria que o barco também possui para armazenar amostras de água, sedimentos e organismos, e estudado depois da expedição”, contou.

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