terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Seca no Nordeste: Arcebispo critica inércia do governo

Diante da situação devastadora enfrentada pelo Rio Grande do Norte com os efeitos da seca e a possibilidade de mais nove anos de escassez de chuvas pela frente, o arcebispo metropolitano de Natal Dom Jaime Vieira Rocha alertou para a necessidade de políticas públicas para a convivência com a seca e criticou a inércia dos governantes potiguares em relação à adoção de medidas definitivas. "A cada seca, parece que nós somos pegos de surpresa, parece que não nos adequamos à convivência com o semiárido", disse o arcebispo.

Dom Jaime Vieira esteve na Paraíba, na última quarta-feira, 16, onde a Assembleia Legislativa paraibana lançou a Campanha SOS Seca que tem como objetivo chamar a atenção dos governos Federal e Estadual para ações emergenciais e duradoras que resultem em melhorias das condições na convivência com a estiagem.

"Os deputados fizeram uma caravana pela Paraíba e constataram as dificuldades de cada região. Essa experiência resultou na elaboração de um documento oficial que reúne as recomendações dos parlamentares. O que me parece é que nós estamos ainda tentando aprender como lidar com a seca e suas consequências, quando, na verdade, já tínhamos que ter avançado nisso e estarmos aplicando medidas definitivas. Nós temos que questionar e cobrar a quem compete a viabilidade das soluções concretas e imediatas de enfrentamento à problemática da seca", disse o arcebispo.

Dom Jaime Vieira foi enfático ao afirmar que é preciso que a própria população, a sociedade civil organizada e entidades reconhecidas se mobilizem para que sejam tomadas medidas efetivas de convivência com a seca e que deixem de alimentar o que ele chamou de "velha indústria da seca". "É preciso que as nossas bancadas se articulem para ver que ações nós podemos empreender como estado, como governo e como sociedade civil para enfrentar essa problemática. Precisamos de políticas públicas que tenham continuidade e não de políticas de governo que somente alimentam a velha indústria da seca", afirmou o arcebispo.

No último domingo, a Tribuna do Norte publicou reportagem mostrando as projeções feitas pelo professor Luiz Carlos Baldicero Molion,  PHD em Meteorologia e pesquisador da Universidade Federal de Alagoas, sobre os ciclos históricos das estiagens na região do semiárido nordestino. Para o professor  Molion, é grande a possibilidade da região enfrentar um novo ciclo de invernos abaixo  da média intercalados com períodos de estiagem pelos próximos nove anos. A projeção dele tem como base os estudos sobre o comportamento das temperaturas nos oceanos, relacionados com os levantamentos dos dados das séries históricas de chuvas nos estados nordestinos.  
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"É arriscado dar como certo nove anos de chuvas escassas"

De acordo com a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado (Emparn), não há registro histórico de seca por nove anos consecutivos no Rio Grande do Norte que comprovem a possibilidade da projeção feita pelo professor Molion. O meteorologista José Uelinton Pinheiro explica que os dados da climatologia do Rio Grande do Norte, disponíveis a partir de 1911, revelam que nunca se observou nove anos consecutivos de estiagem. "Já tivemos até três anos consecutivos de estiagem, mas nove anos nunca. A climatologia, o passado histórico das chuvas, não concorda com essa projeção", disse.

Segundo ele, a tecnologia disponível hoje permite que se faça uma previsão de 3 a 6 meses de antecedência. "Mesmo assim, em alguns casos, esse limiar de antecedência não é possível porque o comportamento da atmosfera às vezes apresenta um comportamento indeciso que não nos permite tirar conclusões mais concretas", explicou.

José Uelinton explica que a previsão da estação chuvosa é feita com dados globais de dezembro e início de janeiro. "É avaliado o comportamento tanto do Oceano Atlântico como do Pacífico; a temperatura da superfície do mar, ventos; pressão; radiação de ondas longas; entre outros aspectos. Esses dados nos permitem uma previsão com mais confiabilidade", disse José Uelinton.

Para o professor de Física e integrante do grupo de pesquisa de Ciências Climáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Francisco Alexandre da Costa, "é muito arriscado dar como certo que o semiárido terá nove anos consecutivos de chuvas escassas". E reforça o ponto de vista técnico: "Hoje, se trabalha com previsões climáticas com três, quatro meses de antecedência. Falar em uma previsão de nove anos de antecedência é muito difícil".

O professor entretanto, faz uma distinção entre o trabalho desenvolvido pelos meteorologistas da Emparn e as conclusões do estudo feito pelo professor Luiz Carlos Molion. Estas devem  ser vistas como "uma projeção e não como uma previsão".  Nem por isso, o estudo, segundo ele, deixa de ter importância.

"Essa discussão", disse Francisco Alexandre, "nos traz uma reflexão para a importância das previsões climáticas para o Nordeste do Brasil, sobretudo para o planejamento de ações do governo. É preciso que os gestores tenham a preocupação de ter políticas públicas que fortaleçam a convivência adequada da população com o meio em que se vive". O professor reforçou que com as previsões, os gestores podem buscar mais informações e conhecimento de atividades econômicas adequadas para o semiárido. "O Brasil está começando a entender que esse é um problema que precisa ser enfrentado", afirmou.

O trecho acima é parte de matéria publicada no jornal potiguar Tribuna do Norte e pode lida na íntegra aqui.



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