quinta-feira, 22 de abril de 2010

Aumento da temperatura ameaça sobrevivência de corais


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sobrevivência de corais
Divulgação/MCT - A alteração da temperatura influencia na vida marinha.
22/04/2010 - 08:29
Além das possíveis alterações climáticas e suas consequências, o aumento da temperatura no planeta ameaça também o ecossistema marinho. Ambientalistas e pesquisadores se dizem alarmados com o branqueamento dos corais, fenômeno registrado no Brasil e em quase todo o mundo, atribuído, principalmente, à elevação da temperatura dos oceanos.
Na costa da Bahia, por exemplo, as primeiras avaliações realizadas após o verão já mostram mudanças. O tom colorido das algas que encobrem a estrutura dos corais tem dado lugar ao branco do esqueleto calcário dessas espécies marinhas.
De acordo com informações do Projeto Coral Vivo - Organização de pesquisadores ligados ao Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) -, neste ano, a temperatura da água do mar ficou muito acima da normal. Situação notada mesmo em locais sem controle de temperatura formal. A informação é confirmada por Zelinda Leão, do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Professora do curso Pós-graduação em Geologia da UFBA ela coordena, juntamente com Ruy Kikuchi, o grupo de pesquisa Recifes de Corais e Mudanças Globais, credenciado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT).
Entre as linhas de estudo, o grupo monitora, desde 1998, o estado de saúde, as condições dos recifes e a resposta dos corais às variações dos parâmetros ambientais, como a temperatura e a turbidez da água.  Segundo Zelinda, a anomalia térmica já alcança quase 1ºC (acima da máxima dos últimos 10 anos, sendo a média de 28ºC). “O suficiente para os corais ficarem brancos”, ressalta.
Simbiose
Corais são animais marinhos do grupo dos cnidários, que inclui também as anêmonas, as águas-vivas ou medusas e os “corais de fogo” (hidrozoários). São invertebrados (animais sem espinha dorsal) capazes de secretar por baixo do tecido um esqueleto externo calcário (como nossos ossos) ou córneo (como nossas unhas). No interior do tecido do coral vivem várias algas microscópicas chamadas zooxantelas. Estas algas têm uma relação de simbiose com o coral, na qual a alga fornece ao pólipo alimento por meio do processo de fotossíntese e, em troca, recebe proteção e nutrientes.
A especialista em geologia de recifes esclarece que a descoloração dos corais pode ser explicada pela morte, expulsão ou perda de pigmento das algas. “O esqueleto do coral é branco, o tecido do coral é transparente. Ele tem cor porque vive em simbiose com essas microalgas que têm pigmentos, o coral tem, portanto, o pigmento delas”, explica.
Zelinda conta que a situação não é nova. Os eventos de branqueamento passaram a ser registrados no Brasil desde 1993 e, na Bahia, desde 1998. “Foi a primeira vez que avaliamos quantitativamente o fenômeno no estado. Também tivemos registros nos verões, de 2002, 2003, 2005 e agora; relacionados a anomalias térmicas mais elevadas e mais duradouras, coincidindo com a presença do El Niño (alteração do clima em todo o Pacífico equatorial, quando as massas de ar quentes e úmidas acompanham a água mais quente, provocando chuva excepcional na costa oeste da América do Sul).
Para especialistas, essa condição pode representar ameaça de extinção das espécies no futuro. O mundo perdeu 19% dos seus recifes de coral desde 1950 e outros 15% estão seriamente ameaçados de desaparecer ao longo das próximas duas décadas. Essas são algumas informações da edição de 2008 da Status dos Recifes de Coral do Mundo, publicação bianual da Rede Mundial de Monitoramento de Recifes de Coral (GCRMN, na sigla em inglês), que reúne informações sobre a situação de 96 países.
Uma boa parte dos recifes consegue se recuperar, mas os pesquisadores temem que o aquecimento do planeta torne os branqueamentos cada vez mais frequêntes e perigosos, causando mortandade em massa de corais ao redor do mundo. “Mas nós ainda (Brasil) não tivemos branqueamento de larga escala como foi registrado no Atlântico Norte e no Oceano Pacífico. O nosso (Atlântico Sul) é um branqueamento de menor escala. Ainda não registramos mortalidade em massa dos corais”, afirma Zelinda.
Os estudos agora estão voltados à avaliação da resistência das espécies, por meio de testes com variação de temperatura em aquários. “O nosso objetivo é ver que espécies resistirão mais ao branqueamento, para fazer previsões de como serão esses recifes no futuro. O que se observa no mundo é que os corais em processo de branqueamento estão se tornando mais fracos, menos resistentes e atacados por doenças causadas por vírus, bactérias, etc. Isso está causando a morte, inclusive no Brasil”, revela. 

Fonte: Portal do MCT.

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